senta-se no parapeito, expande-se até ao infinito. da vasta cidade que o constrange, só lhe resta a fachada, e dali de cima é-lhe imune (ainda bem que assim o é). à primeira gota de chuva não se apressa a tirar o pêssego do bolso, que as coisas sejam como tiverem de ser, porque a esta hora não se tenta moldar o mundo à nossa volta, dos nossos mundanos desígnios. trinca-o com gosto, mastiga de boca bem aberta, deixa que os sons se misturem. a chuva que cai no chão, o barulho que faz nas telhas, o silêncio da cidade adormecida; e também o dilacerar da polpa, o quase imperceptível descer da gota de sumo, e o suspiro que veio e foi com o pássaro que nasceu onde a árvore acaba. inspira a brisa fresca e mantém-se, neste momento de perfeita harmonia egocêntrica, durante três segundos: o tempo suficiente para ser feliz.
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6 comentários:
este é o melhor texto que já escrevi.
riders on the storm
the doors
l.a. woman
3 segundos egocêntricos podem durar uns valentes minutos
e mais (escrito originalmente por um tal de jamiroo na sexta feira, 1 de abril de 2005):
"Ele acordou mal-disposto. O nome do outro; o tempo perdido; as juras desfeitas; a lama por onde se arrastou, flagelado, uma mão a enxaguar as lágrimas, a outra agarrada ao peito. Mas também o cheiro dela; a ilusão do amor; o sexo, o sexo; os primeiros dias, contemplando-a. Lembrava-se de tudo agora, agora que ela, Madalena, queria voltar atrás. "peço-te, por favor, amo-te, amo-te, amas-me mais uma vez? rspd para o meu".
Pegou no telemóvel e escreveu à pressa:
"Amo-te"
(a escrita inteligente escreve as coisas mais estúpidas)
"A sério? :) :) :)", respondeu ela por sms.
"Não. Dia das Mentiras".
(e adormeceu bem-disposto)"
hahaha andas em boas leituras
naturalmente.
vou reler tudo outra vez
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