o confronto ideológico teve um papel determinante na luta contra a ditadura fascista em portugal.
este travou-se em várias frentes, nomeadamente no plano da música. por um lado, tínhamos a concepção da música como ferramenta essencial para a elevação da consciência de classe, como elemento aglutinador e de reivindicação das massas; por outro, tendo o regime a noção do potencial transformador e da capacidade de pôr as pessoas a “pensar”, a tentativa da elitização do acesso e fruição da música, ou a limitação de correntes artísticas, também associada à promoção massiva, pela rádio e espectáculos e mesmo no ensino, da música ligeira e das “baladas”.
esta prática era comum a outras ditaduras da altura: hitler, em mil novecentos e quarenta e dois, propunha a instalação de altifalantes em cada aldeia ocupada para que difundisse «música e mais música ligeira! forneçamos àquela gente a ocasião de dançar muito e ela ficar-nos-á reconhecida», o que impediria «cérebros iluminados que chegassem a conceber ideias políticas».
apesar do obscurantismo que salazar e seus esbirros votavam o país, por toda a sociedade o movimento musical foi resistindo. camponeses e operários continuavam a cantar a música tradicional portuguesa, representativa das potencialidades criadoras do povo, intrinsecamente ligada às condições miseráveis que viviam e à luta por um futuro melhor; para desvirtuar essa identidade, a ditadura criou a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, que difundia a sua propaganda e desprovia de qualquer sentido político a nossa cultura musical, encarando-a como algo “pitoresco” cuja única “função social” era divertir a burguesia, algo a que o Movimento Associativo Português sempre fez frente.
no plano dos compositores portugueses, vários intelectuais solidarizaram-se activamente com a luta do povo, nunca depondo as armas da luta ideológica, mau grado a censura, as perseguições, a repressão ou o exílio. destes, é justíssimo referir Fernando Lopes-Graça, valoroso militante comunista que ao longo de toda a sua vida divulgou o folclore português (autêntico), através de uma linguagem musical moderna que além de não perder a identidade original, saíu para a rua, para junto das classes trabalhadoras que eram privadas do consumo da música. muitos foram os contributos de Lopes-Graça para a democratização da cultura e da crescente organização dos intelectuais progressistas em iniciativas de firme combate ideológico ao Fascismo.
a partir da década de sessenta registou-se também em portugal um novo fôlego da música popular portuguesa, que ganhou expressão com cantores e compositores de intervenção como Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, entre muitos outros. estes conseguiram uma fusão quase perfeita entre a riqueza técnica das músicas com a riqueza política das suas mensagens, criando verdadeiros hinos à liberdade e à militância, contra a ditadura fascista e pelo socialismo. “canções heróicas” entoadas em cada comício, reunião ou distribuição clandestina, que enchiam de confiança e de esperança os portugueses na luta por um portugal diferente.
também nesta altura se iniciou um fenómeno cuja história ainda hoje permanece quase desconhecida. surgiram uma série de bandas de rock português, umas mais politizadas (como os “petrus castrus”, que utilizaram poemas de Ary dos Santos nas suas músicas, ou os “steamers” que sobre o amplificador usavam um pano vermelho com a frase de fidel castro, “Liberdade ou Morte”) outras menos, mas que mesmo indirectamente contribuíram e foram reflexo das alterações que portugal enfrentava.
o movimento musical antes do vinte cinco de abril resistiu contra a tentativa de embrutecimento do povo e foi essencial para a galvanização e organização dos trabalhadores contra o fascismo. e foram duas músicas, “e depois do adeus” e “grândola, vila morena”, as senhas escolhidas para assinalar o avanço das forças organizadas pelo MFA no dia vinte cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro. Por isso, a música estará sempre associada ao início da democracia em portugal.
este travou-se em várias frentes, nomeadamente no plano da música. por um lado, tínhamos a concepção da música como ferramenta essencial para a elevação da consciência de classe, como elemento aglutinador e de reivindicação das massas; por outro, tendo o regime a noção do potencial transformador e da capacidade de pôr as pessoas a “pensar”, a tentativa da elitização do acesso e fruição da música, ou a limitação de correntes artísticas, também associada à promoção massiva, pela rádio e espectáculos e mesmo no ensino, da música ligeira e das “baladas”.
esta prática era comum a outras ditaduras da altura: hitler, em mil novecentos e quarenta e dois, propunha a instalação de altifalantes em cada aldeia ocupada para que difundisse «música e mais música ligeira! forneçamos àquela gente a ocasião de dançar muito e ela ficar-nos-á reconhecida», o que impediria «cérebros iluminados que chegassem a conceber ideias políticas».
apesar do obscurantismo que salazar e seus esbirros votavam o país, por toda a sociedade o movimento musical foi resistindo. camponeses e operários continuavam a cantar a música tradicional portuguesa, representativa das potencialidades criadoras do povo, intrinsecamente ligada às condições miseráveis que viviam e à luta por um futuro melhor; para desvirtuar essa identidade, a ditadura criou a Federação Nacional para a Alegria no Trabalho, que difundia a sua propaganda e desprovia de qualquer sentido político a nossa cultura musical, encarando-a como algo “pitoresco” cuja única “função social” era divertir a burguesia, algo a que o Movimento Associativo Português sempre fez frente.
no plano dos compositores portugueses, vários intelectuais solidarizaram-se activamente com a luta do povo, nunca depondo as armas da luta ideológica, mau grado a censura, as perseguições, a repressão ou o exílio. destes, é justíssimo referir Fernando Lopes-Graça, valoroso militante comunista que ao longo de toda a sua vida divulgou o folclore português (autêntico), através de uma linguagem musical moderna que além de não perder a identidade original, saíu para a rua, para junto das classes trabalhadoras que eram privadas do consumo da música. muitos foram os contributos de Lopes-Graça para a democratização da cultura e da crescente organização dos intelectuais progressistas em iniciativas de firme combate ideológico ao Fascismo.
a partir da década de sessenta registou-se também em portugal um novo fôlego da música popular portuguesa, que ganhou expressão com cantores e compositores de intervenção como Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso, Luís Cília, Manuel Freire, entre muitos outros. estes conseguiram uma fusão quase perfeita entre a riqueza técnica das músicas com a riqueza política das suas mensagens, criando verdadeiros hinos à liberdade e à militância, contra a ditadura fascista e pelo socialismo. “canções heróicas” entoadas em cada comício, reunião ou distribuição clandestina, que enchiam de confiança e de esperança os portugueses na luta por um portugal diferente.
também nesta altura se iniciou um fenómeno cuja história ainda hoje permanece quase desconhecida. surgiram uma série de bandas de rock português, umas mais politizadas (como os “petrus castrus”, que utilizaram poemas de Ary dos Santos nas suas músicas, ou os “steamers” que sobre o amplificador usavam um pano vermelho com a frase de fidel castro, “Liberdade ou Morte”) outras menos, mas que mesmo indirectamente contribuíram e foram reflexo das alterações que portugal enfrentava.
o movimento musical antes do vinte cinco de abril resistiu contra a tentativa de embrutecimento do povo e foi essencial para a galvanização e organização dos trabalhadores contra o fascismo. e foram duas músicas, “e depois do adeus” e “grândola, vila morena”, as senhas escolhidas para assinalar o avanço das forças organizadas pelo MFA no dia vinte cinco de abril de mil novecentos e setenta e quatro. Por isso, a música estará sempre associada ao início da democracia em portugal.
2 comentários:
publicado originalmente aqui,
http://www.jcp-pt.org/images/stories/agit91(2).pdf
assunto a ter desenvolvimento, provavelmente; aprofundamentos que faltam fazer, caracteres que ficaram por contar. do fernando lopes-graça ao jazz, principalmente.
leitura recomendada:
- a música e a luta ideológica, de mário vieira de carvalho. editorial estampa, edição de 1976.
- estes sons, esta linguagem, de mário vieira de carvalho. editorial estampa, edição de 1978.
- história da música, de rui vieira nery e paulo ferreira de castro. comissariado para a europália 91/portugal; imprensa nacional - casa da moeda. (custou mil e quinhentos escudos na altura)
os fantoches de kissinger
josé afonso
com as minhas tamanquinhas
e
grândola, vila morena
josé afonso
zeca afonso no coliseu
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